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A Arte de Sorrir: o (bom) humor necessário de Paulo Gustavo

Se a vida prega peças, não seria diferente na precoce partida do ator Paulo Gustavo.

 

Vítima de complicações da covid-19, a morte do comediante, aos 42 anos, foi confirmada na noite desta terça-feira, 04 de maio, e, embora o Brasil já viesse acompanhando seu longo tratamento desde março, a notícia foi sentida com muito impacto por todo público.

 

Talvez pela sensação de que Paulo fosse realmente um membro da família. Da minha, da sua e de muitas outras.

 

No plural, ousa-se dizer, em razão das milhares que lotaram as salas na trilogia de “Minha Mãe é Uma Peça”, extrapolando recordes absolutos de público.

 

A mistura intrigante de ficção e realidade rompeu – de forma harmoniosa – com todas as caretices da tradicional família brasileira, e figura entre as maiores arrecadações.

 

O último, lançado em 2019, é oficialmente o filme brasileiro com maior bilheteria da história do cinema nacional, com doses nada homeopáticas de representatividade.

 

Déa Lúcia, por exemplo, é a inspiração da icônica Dona Hermínia e caiu no gosto do público com a típica mãe popular e super sincerona de Icaraí, região da zona sul de Niterói.

 

As ruas do bairro, com vista para seu vizinho gigante Rio de Janeiro, os moradores, comerciantes e vizinhos foram incorporados ao roteiro dando ainda mais toques de realidade à obra.

 

Juliana Amaral, irmã do humorista, também não escapou e foi projetada na personagem Marcelina [interpretada pela atriz Mariana Xavier], rompendo de forma cômica e despojada, com o politicamente correto e sem melindres sobre a compulsão alimentar e sobrepeso.

 

Teve de tudo: descasamento, diversão e escrachos cotidianos e bem-humorados do dia a dia familiar. Mas a arte plagiou ainda mais a vida na sinopse do filho Juliano, protagonizado por Rodrigo Pandolfo.

 

A reafirmação da sexualidade e as descobertas do universo gay foram amadurecendo de acordo com as sequências dos três filmes. Enquanto, na vida real, Paulo Gustavo casava-se com o médico Thales Bretas, o filho de Hermínia protagonizou cenas hilárias no casamento luxuoso em Búzios.

 

 

Na época, a ausência do beijo até chegou a ser questionada pela crítica especializada, muito antes do lançamento, o que fomentou ainda mais o ‘buzz’, aka ‘interesse do público’ pela ida às salas de cinema.

 

Mas o que é a polemização em cima da falta de um beijo gay perto da ausência de Paulo Gustavo no teatro, nas telonas, nos programas humorísticos e na comédia?

 

O fato é que o niteroiense já deixa uma gigantesca lacuna neste triste momento em que o brasileiro busca válvulas de escape para todas as adversidades da pandemia que ele tanto temia em suas recentes lives no Instagram.

 

Na semana das mães, figuras sempre enaltecidas por ele em seus trabalhos, Paulo será sempre lembrado como um rolo compressor de gargalhadas. Um gigante que só queria brincar de viver.